Qua 01/09 - Quarto dia

Já estávamos nos sentindo em casa, repletos de um sentimento bom - desses que temos quando estamos entre companheiros de caminhada :-> - quando acordamos por volta das seis da manhã. Meio cansados, mas dispostos a viver o novo dia que nascia, tomamos uma deliciosa vitamina preparada por nossa amada Edina. Em sua varanda fizemos uma oração cheia de carinho e agradecimento pela oportunidade e a graça de poder viver todos os momentos especiais daqueles dias. Edina, você nos cativou. Você nos cativou.


Após nos despedirmos e com o coração na mão, rodamos cerca de uma hora em Goiânia, entre congestionamento (sim, isso não existe só em São Paulo!) e erros do GPS (GPS também é humano... :-P). Com disposição total e baterias recarregadas, o Vitor empolgado pilotou nosso Cuervo na ansiedade de logo chegar à Cuiabá-MT - o cara levou tão a sério a questão do Cuervo Blanco que parecia querer fazê-lo decolar durante o caminho... Amanhã é possível que ele tente fazer El Cuervo botar um ovo, rsrsrss.

Como esse lance de viajar dá muita fome, resolvemos parar em São Luis dos Belos Montes- GO, em posto de beira de estrada para tomar um cafezinho acompanhados de esculturas da branca de neve e os sete anões que habitavam os jardins da lanchonete . O Jair pela primeira vez comeu um pão com manteiga “na chapa” feito numa sanduicheira; a Deyse acreditava que, na verdade, a manteiga era mesmo maionese; o Vitor pediu um bolinho de frango pensando que era um empanado e o menino Johnny estava meio indisposto com uma dorzinha de estômago.

Logo à frente avistamos a primeira queimada do dia! Percebemos que o fogo que se alastrava pela vegetação de beira de estrada estava adentrando mais a pista com o vento, chegando a entrar em contato com El Cuervo, porém felizmente nada aconteceu conosco, mas com a mata... Fizemos um instante de silêncio...

Rodando e rodando por estradas não muito bem identificadas, passamos por algumas palhoças... (era a primeira vez que avistávamos esse tipo de construção a beira da estrada), continuamos mais alguns metros até percebemos que aquela imagem tinha incomodado a gente de alguma forma e resolvemos voltar e ver do que se tratava. As palhoças estavam abandonadas. Eram cerca de 6 abrigos, um completamente destruído e os demais abandonados.




 Ao entrar em um deles, o Vitor encontrou um livro entre a palha e a estrutura de madeira. Ao pegá-lo, notou que era uma bíblia, neste instante chamou a atenção dos outros viajantes que se juntaram para vê-lo e a Deyse fechou os olhos, abriu uma página e proclamou a leitura de Romanos 9, 19-25. Após esse momento de partilha e surpresa neste local completamente abandonado, encontramos outro sinal de vida: no meio daquela secura havia também uma única torneira com água aparentemente fresca. Em outro abrigo o Vitor encontrou uma garrafa de refrigerante, ainda com gás e com data de fabricação de 17/08/10 o que supõe que o lugar fora sido utilizado como abrigo há pouco tempo.

A Deyse pegou um saquinho de arroz vazio que encontrou dobrado entre as madeiras de uma parede deu ao Vitor que o encheu de terra e saímos de lá com um sentimento de mistério sem saber a história daquele lugar e daqueles cristãos.


Mais a frente nos deparamos com à segunda queimada do dia...dois senhores tentavam apagar ou controlar o fogo que insistia em invadir a estrada e levantar uma densa fumaça, seguimos em frente mas o incomodo ficou no ar, pois não paramos pra ajudá-los.


Eita mundão grande esse!!! El Cuervo estava com tanta sede como nós que pedia pra ser abastecido. Então paramos em outro posto onde conhecemos “Seu Bento” que na verdade disse ser “São Bento”, um senhor muito simpático, com pinta de coronel aos seus 70 anos trazia na sua Ranger de detalhes cromados sua jovial “esposa” de 37 anos. Em seguida ele nos confidenciou que tem 2 riquezas em sua vida: as suas duas mulheres, que inclusive são amigas.


Hoje Seu Bento é aposentado, foi servidor público da Policia Federal e se dedica a cuidar de 2 mil cabeças de boi além das esposas. Fomos convidados por ele pra dar uma volta por sua cidade, e experimentar uma pinguinha : - Mas óia, quando vocês não quiserem mais ela (a Deyse na interpretação do Vitor e a nosso El Cuervo para os demais) pode deixar que eu aceito”

Já passava das 12h00 quando o Jair avista uma rádio na cidade de Aragarças (última cidade de Goiás), e a Deyse comenta que seria interessante se fossemos dar nosso relato na rádio, todos se animaram e fomos até eles. Na chegada, fomos simpaticamente recebidos pela curitibana Simone (@symonemota) que nos contou a lenda de Araguaia: “quem toma água desse rio, sempre volta pra cidade, eu tomei essa água e voltei” disse ela sorrindo.



No mesmo clima de interesse, contamos nossa história e ela se interessou bastante, além de nos dar dicas de passeios turísticos pela cidade e nos convidar para tirar fotos no estúdio da rádio, onde conhecemos o Max (locutor) e os demais funcionários da rádio. A Symone disse que iria preparar uma ”sonora” pra divulgar na programação da rádio. Ao sair ainda fomos presenteados com alguns adesivos da rádio e CD Hugo Pena e Gabriel, Mr Gym e Deville. Ah, durante a nossa passagem pela rádio chegou uma senhorinha que foi buscar seu prêmio de “troca de óleo”. Animados tomamos um sorvetinho e seguimos viagem.


Já as 15h30 paramos em Barra do Garças, um aconchegante restaurante no meio do nada, bem limpinho, mas para nosso azar já haviam parado de servir refeições ás 15h00.


Em busca de outro local para comermos, foi nos apresentada a lenda do pão de queijo frito. Ficamos curiosos para saboreá-lo, mas como estávamos de estômago vazio optamos por uma refeição com mais nutrientes. (Contudo, se alguém tiver ai a receita pode mandar que postaremos aqui no blog!). Na mesma rua encontramos o Restaurante dos 3 Tchê, e novamente na presença da branca de neve e os sete anões, por R$ 7,50 nos ofereceu bifes, arroz, feijão e ovo frito e mais 3 jarras de suco de laranja que partilhamos por R$ 15,00...o que naquela altura se tornou a comida mais deliciosa que poderíamos comer.


Já nutridos, seguimos caminho mas, dessa vez, sob a direção da companheira Deyse.


Num gesto de cavalheirismo, enquanto a Deyse dirigia todos os meninos dormiram... hehe. Na verdade só perderam a linda paisagem do entardecer do Cerrado Brasileiro acompanhado de um sol radiante que deixava em todo o céu um degradê de cores azuis e laranjas mesclando-se (Ai, preciso parar para tirar uma foto, preciso...mas não consegui por que não havia um acostamento em nível da rodovia, somente nas estradas locais). Tudo estava indo bem até observar o sol sumir em uma massa cinzenta...e dessa vez não era mais uma queimada, mas sim... a cidade de Primavera do Leste.


O Jair acorda na cidade de Primavera do Leste-MT, horrorizado com a paisagem que vê. Não conseguiu tirar foto ou filmar, pois era realmente medonho, uma cena tirada de algum filme desses de catástrofes e fim do mundo, como por exemplo Mad Max. Num calor insuportável e desértico por conta do desmatamento em prol do cultivo de soja, se via máquinas jogando água na estrada de terra pra baixar poeira, ao redor da estrada uma nevoa branca acompanhava El Cuervo. No céu não havia mais sol e esse não voltou mais durante os 80km que rodamos como se estivéssemos dentro de uma estufa...DESTRUIÇÃO TOTAL EM PLENO CERRADO, era tudo que se via além de postes de energia e a fábrica da Cargil (Pensemos amadas e amados amigos e companheiros de luta se realmente temos a idéia da destruição que nosso país está sofrendo...parem para pensar...e quem viver viverá)!


A noite veio e o Jair começou a interagir encantando-se com as estrelas, enquanto nossa ousada companheira Deyse fazia uma audaciosa ultrapassagem que nos tirou o fôlego, só então Vitor e Johnny acordaram.

Nesse meio tempo fomos combinando de nos encontrar com o Nelson, pejoteiro da Arquidiocese da casa que nos acolheria. Na casa já estavam a Ir. Clara e a Ir Lorena, que nos deram as boas vindas e um forte abraço. Elas fazem parte da Congregação da Divina Providência (Eduardo Michelis), e desenvolvem seu trabalho principalmente na periferia. Encontramos a mesa pronta, nossos quartos impecavelmente arrumados com direito a toalha e sabonete. As irmãs nos mostraram a horta que cultivam em sua casa com frutas, hortaliças e ervas para chá. Na casa mora também o Catatau, cachorrinho que logo se acostumou com nossa presença.



Durante o jantar (Literalmente em forma da Mesa Redonda) aproveitamos para partilhar nossas experiências e pensamentos sobre a Campanha Nacional da PJ contra a Violência e Extermínio de Jovens; discutimos sobre as políticas públicas, saídas e experiências de SP e MT a respeito dessa temática e ainda descobrimos que o pessoal de Cuiabá fez sua Ciranda pela Vida, que vamos postar em breve no blog da Campanha HTTP://ciranda.juventudeemmarcha.org.


Combinamos nossa passagem por Vilhena e Porto Velho com a Fran e fomos dormir pra amanhã seguir rumo a Chapada dos Guimarães na companhia da irmã Marli.


Antes de dormir o grupo acertou alguns detalhes de relacionamento e conduta e dormimos felizes com os presentes que deu nos ofereceu no dia de hoje através de sua Palavra (leitura bíblica); da Água fonte de Vida e do Sol, fonte de energia que nos seguirá ardentemente nos próximos dias e destinos de nossa aventura, ou melhor peregrinação em missão pela partilha e fé de um mundo melhor...

Read Users' Comments (1)comentários

1 Response to "Qua 01/09 - Quarto dia"

  1. tatazinha, on 3 de setembro de 2010 às 17:47 said:

    Ooooi !

    "lindo hein...."kkkk arrasando corações em Vitor kkkk

    (GPS também é humano...) kkk essa é boa!

    gostei das palhoças
    que coisa uma Bíblia
    no meio das palhas...é um bom sinal !
    fiquei curiosa tbm pra saber a historia da quele lugar. :P

    fiquei feliz por saber que cuibá tbm faz Ciranda pela vida.
    quero ver :)

    BeIjOkAs
    uma otima viagem !!!
    Axé!!

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