Sab 04/09 - Sétimo Dia

Pela manhã, acordamos com um alto barulho até então não identificado, seria o fim dos tempos? Seria uma manada de guaxinins passando por ali? Ou ainda algum monstro saído desses seriados de super-herói japonês que destrói toda cidade? Não, não, não... era seu Adenilson que fazia alguns “pequenos” reparos com suas sutis marretadas! Mais tarde seu Adenilson nos contou que também toca violão, baixo e cavaquinho nas missas e festinhas da comunidade.



Antes de sair para o trabalho, Omério nos deixou o café da manhã preparado. Juntamos então as broas que ganhamos da irmã Marli (Cuiabá-MT) e nos alimentamos muito bem. O Johnny e o Vitor aproveitaram pra atualizar o Blog mais uma vez (na presença de alguns calangos - lagartixas ultra dimensionadas ou micro jacarés), a Deyse arrumava suas coisas e teve um pequeno indício de desarranjo intestinal e o Jair, após lavar a louça, foi colher informações junto às autoridades locais a respeito das condições das estradas que pegaríamos a seguir.
 A Polícia Rodoviária Federal de Manaus disse que a BR-319 é um caminho pra aventureiros e não para família, sendo mais seguro seguir de balsa, até porque um trecho da estrada havia despencado. Por conta dos diversos conselhos que recebemos de não fazer esse caminho, achamos melhor fazer uma pequena reunião para decidirmos, de forma coletiva, considerando os riscos e as limitações de cada um, se deveríamos seguir nosso plano ou mudá-lo. Cerca de 15 minutos depois reafirmamos o desejo de encarar esse desafio.

Deu tempo de conhecer a simpática Bia, secretária paroquial e notarmos que as bicicletas da cidade são emplacadas pela Secretaria Municipal de Trânsito, então nada de pedalar acima da velocidade permitida nem andar com a cabeça pra fora do guidão, hein!


Já atrasados seguimos pro almoço. As (caríssimas) Ir. Paulinas liberaram o Omério mais cedo pra almoçar conosco. Tivemos o prazer de almoçar na companhia da CRPJ (Comissão Regional da Pastoral da Juventude), que já estavam amarelos de fome por nos esperar para partilha do alimento. Chegamos à casa que abriga a secretaria regional da CNBB por volta das 13h00. Lá encontramos a famosa e querida Fran, o parceirinho do Encontro nacional João (bonequinho) e uma figura que se tornaria fundamental logo mais, o Clive – atual representante da PJ de Humaitá - ou seria, Cliv, Clivi, Klyv?!....


Fizemos uma breve oração antes de nos alimentar. Após o almoço, a galera da CRPJ aceitou o convite de gravarmos uma ciranda pela paz (em breve disponibilizaremos no blog da campanha contra violência e extermínio de jovens) . No momento da despedida, Jair e Jonilton conversaram com o Clive (Cliv, Clivi, Klyv?!) e pegaram os contatos da cúria, onde poderíamos procurar as Irmãs Iandra e Ivonete em Humaitá-AM. Levamos a Fran no Cuervo Blanco até a sua aula de pós graduação em Direitos Humanos: ela nos contou que vários policiais estudam com ela e por isso, são freqüentes os embates entre as diferentes visões sobre os assuntos discutidos.

Com o menino Mogli ao volante, partimos rumo a Humaitá e Zoraide (não sei se contamos essa parte ou esquecemos, mas em algum momento da viagem, demos o nome para a GPS de “Zoraide”) tentou nos levar até a balsa mas não teve muito êxito. Então, Deyse, mais preocupada em falar com seus familiares do que com o trajeto, foi ”carinhosamente” convidada a deixar o banco da frente pro Jair, que com seus dotes de navegador nos orientou até a balsa.


Já na tal balsa, o Jair descobriu o valor da mesma e também que deveríamos voltar para reabastecer El Blanquito e comprar água. Saímos da fila da balsa e nos dirigimos até um posto onde enchemos nosso tanque e o tanque reserva (um recipiente que leva 50 litros de diesel), pois não sabíamos os contratempos que poderíamos enfrentar no meio da selva amazônica. Nesse mesmo posto não nos venderam água pois não portávamos o recipiente plástico para troca, foi quando nos dirigimos até o supermercado pra comprar água e funil. Com seu tino aguçado Vitor logo vê numa singela garrafa de amaciante o funil ideal que serviria pra fazer a transposição do diesel do barril pro tanque do Cuervo. Compramos o amaciante lavanda da marca Belga por R$3,50, Vitor ainda se vale do momento para adquirir um condicionador para suas madeixas. No supermercado não encontramos água, que teve de ser comprada pela Deyse no posto ao lado do supermercado.


Satisfeitos com as aquisições realizadas voltamos para a fila da balsa. Johnny foi à compra do bilhete e inventou um número qualquer pra placa do Blanquito, mas isso não nos causou problemas.Vitor partilha que seria a primeira vez que utilizaria deste tradicional meio de transporte aquático, revela que é um BV (balsa virgem). Ainda pudemos flagrar um tiozinho que lavou a calçada por 15 minutos e dedicou apenas 2 minutos dessa água toda pra regar suas plantinhas – crianças, não façam isso em casa, a água doce do planeta está acabando, preservem. Na balsa Jhonnny e Vitor encontram a deliciosa iguaria gelada chamada de Dindin, em outros lugares encontrada facilmente como geladinho, sacolé e outras variações, por R$1,00. Vitor toma um dindin sabor graviola e Jonilton toma um dindin sabor chocolate. Durante a travessia avistamos gigantescos cargueiros da Cargil (nota: os viajantes não recomendam produtos da Cargill com sua soja trangênica e sua grande devastação amazônica).


Atravessamos o rio Madeira por 15 minutos e com o menino Mogli ao volante caímos na BR 319 (ai que medo). O caminho não é dos melhores, muita poeira, desvios, obras, pistas únicas pra trafegar as duas mãos, carros à frente adotando a velha técnica da cortina de fumaça mas 200km depois, seguindo o uno de um nativo e sem enxergar absolutamente nada, Vitor leva a trupe dos sem fronteiras até a cidade.


Nos surpreendemos com o tamanho de Humaitá. Em pleno sábado à noite, o comércio estava movimentado: artesanato, roupa, loja do boticário, pessoas na calçada conversando,enfim, um clima bastante aconchegante. Enquanto fazíamos o reconhecimento do território também avistamos muitas bicicletas. Como não tínhamos o endereço da nossa suposta estadia, apenas o nome das irmãs que deveríamos procurar, fomos em busca da catedral de Humaitá.


Em frente ao templo religioso, nos valemos de nossa perspicaz simpatia para interagir com um “transeunte imóvel” que se encontrava por ali com o intuito de extrair maiores informações. O nativo nos apontou uma porta que deveríamos encontrar as tais irmãs. Enquanto o Vitor foi manobrar o carro, Johnny, Deyse e Jair se dirigiram ao local antes indicado e simpaticamente surpreenderam a irmã Iandra quando a mesma abriu a porta. Nos identificamos como indicados pelo Clive (Cliv, Clivi, Klyv?!), explicamos resumidamente nossa situação e após esse pequeno susto, entramos pra tomar água.

Momentos depois fomos buscar a chave de onde iríamos ficar (uma casa a um quarteirão da cúria). No caminho encontramos a Ir. Ivonete que por alguns instantes pensou nos conhecer, mas estava enganada. Ambas as irmãs logo que viram o Jonilton destacaram o fato do mesmo estar trajando uma camiseta estampada com o rosto do grande revolucionário Che Guevara - contudo ignoraram a camiseta que o Vitor vestia das CEBs – coitadinho dele, snif... A Ir. Ivonete tinha a chave que precisávamos e não foi necessário nos dirigirmos em busca da mesma. Voltando alguns passos em direção à cúria, chega um -até então desconhecido - jovem senhor de bermuda montado em uma bicicletinha, com um sotaque nada brasileiro, que começa a contar pras irmãs seu passeio pelas ruas da periferia da cidade: esse simpático e inteligente rapaz é o Pe. Luiz Sep (ou Sepe?), secretário executivo da CNBB.


De uma hora pra outra já nos víamos trocando altas idéias e conceitos filosóficos quanto à vida e a prática da igreja e outros temas de igual relevância, além de suas experiências de trabalho com Pe. Jorge Boran e Pe. Oscar Beozzo. Vitor recorda que em determinado momento o padre nos provocou perguntando “o que é missão pra você?” Depois de respondermos, ele diz: “ Um rabino certa vez foi perguntado sobre isso e ele disse: ser missionário é poder acordar pela manhã todos os dias e poder chamar o outro de irmão”.

A conversa já se estendia por mais de 30 minutos, depois de falar sobre o MST, a situação das juventudes católicas no país, quando alguém teve a brilhante idéia de seguirmos com a conversa acompanhados de uma pizza. Nos dirigimos então pra casa Sta. Marta ( a Casa do Menor - onde o Jhonny se sentiu bastante a vontade). Tiramos o cheiro de estrada e após 30 minutos nos reencontramos com as irmãs, com o padre e também com a Irmã Irene (carmelita da comissão pela Amazônia) e a caríssima Irmã paulina Osnilda (PASCOM).


Foram 15 minutos de caminhada até pizzaria. Vitor e Jair aproveitam pra fazer uma série de perguntas sobre o pensamento do padre a respeito de algumas questões da Igreja, da vida, da moral e do mundo. Deyse e Jhonny felizes com o fato de termos onde repousar as carnes e tomar banho, dançavam pela rua.


Já na pizzaria, pedimos duas pizzas GG e uma Baré (essa que foi comprada pela Antártica), pois o famoso guaraná local Tuchaua estava em falta. Passados 45 minutos (Jair aproveitou para ligar para Maria) e com nossos estômagos digerindo nossos rins chegam as tão esperadas pizzas de 4 queijos e outra meia vegetariana e meia calabreza ( certa falta de coerência esses sabores, não?). A Ir. Osnilda e o Jhonny pediram uma cervejinha básica para acompanhar. Trocamos uma série de impressões e experiências, rimos um bocado e nos retiramos do local, até por que no dia seguinte queriamos participar da missa das 6h15.


Voltando pra Casa do Menor por outro caminho, o Padre Luis deu entrevista exclusiva pro Jair e a Ir. Iandra contou um pouco a respeito de seus trabalhos no rio Madeira (comunidades ribeirinhas). Combinamos o café-da-manhã do dia seguinte e nos recolhemos. Já bem tarde Jonilton e Deyse resolvem bailar ao som de musiquinhas de celular, o que deixou o Vitor um tanto irritado pela barulho, atrapalhando seu descanso de pele e todos dormiram...

Próxima parada: Selva Amazonica!!

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